O processo de pagamento/refinanciamento evidenciará ainda se os líderes políticos dos devedores e, também, dos dois principais países da Zona do Euro, Alemanha e França, entram em 2012 com mais capacidade ou se repetirão o bate-cabeça de 2011.
“Será um momento em que um avanço [político] será necessário para que esse refinanciamento das dívidas dos países afetados seja feito com maior tranquilidade”, disse o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, ao participar, dia 20 de dezembro, da última prestação de contas trimestral ao Senado em 2011.
Na audiência pública, o banqueiro deixou claro como o vencimento de 280 bilhões do quinteto europeu em apenas quatro meses causa apreensão no governo brasileiro. “De fato é uma concentração que deve ser acompanhada por nós com cuidado.”
Se os cinco grandes devedores europeus tiverem dificuldade para atravessar o quadrimestre, é possível que em 2012 toda a economia global volte a sofrer as consequências da crise, na forma de outro crescimento reduzido. Essa é a grande expectativa do governo brasileiro, que vem insistindo que, no ano que vem, o país vai se sair melhor do que em 2011.
Brasil: calmaria
Do ponto de vista da rolagem da própria dívida brasileira, porém, problemas no Velho Continente não preocupam. Durante todo o ano de 2011, o país teve sossego nas negociações com o “mercado”, que não estendeu até aqui a suspeita de calote que alimenta do outro lado do Atlêntico.
Por isso, não provoca o mesmo frio na espinha o fato de o país também ter um cronograma de pagamentos da dívida pública concentrado no início de 2012. De janeiro a abril, terá de rolar 164 bilhões de reais, o equivalente a 43% do total de 381 bilhões previstos para o ano todo. Até o fim do governo Dilma, o vencimento geral será de 1 trilhão de reais.
“O Brasil está melhor do que muitos países industrializados”, afirmou José Franco de Morais, coordenador de operações da dívida pública da Secretaria do Tesouro Nacional, ao divulgar dados sobre a evolução do débito brasileiro em novembro, dia 21 de dezembro.
Por causa disso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem repetindo que, em meio à crise europeia da dívida, o Brasil terminará 2011 diminuindo a sua, quando ela é medida pelo peso que tem no produto interno bruto (PIB). A expectativa do ministro é que a dívida líquida, que estava em 40% do PIB em 2010, feche 2011 em 37%, “uma excelente performance”, como Mantega a definiu durante café de fim de ano com jornalistas, dia 22 de dezembro.
Até novembro, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (28), a dívida estava em R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 36,6%. Contribuiu para a queda da dívida o enorme saque de recursos arrecadados em impostos em todo o país para, com eles, os governos pagarem juros da dívida pública. O chamado superávit primário em onze meses de 2011 sonegou R$ 126 bilhões em políticas públicas, investimentos e outros gastos, para pagar o “mercado”.